sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Um acordo, um cigarro e nada mais.

Estava no canto do quarto sofrendo há dias, inúmeros cigarros apagados a sua volta e não sabia como conter a dor. Já havia feito de tudo ao seu alcance mas era tarde demais, aquelas asas já estavam pesadas demais para ele, pois foram anos suportando o sofrimento de todos que possuía um certo apreço. Não podia morrer pois ele era unico no mundo, seus amigos diziam que eram um dom mas ele sabia que não passava de uma maldição.

Todo o céu se tornou negro e o quarto ficou iluminado somente sob a luz do luar, uma figura misteriosa adentrou o quarto vestindo um elegante terno seguido por uma melancólica música clássica.

- Deve doer muito, não é mesmo? - Perguntou o homem se aproximando do rapaz

- Sim, é uma dor insuportável. Quem é você?

- Meu nome não é tão importante no momento, mas eu sou aquele que você sempre quis ser

- Que eu sempre quis ser? Não entendo, eu nunca desejei ser outra pessoa, só desejava não ter esse peso na alma

- Sua alma de fato é muito valiosa para nós, se aceitares um acordo talvez eu possa te ajudar quanto esse peso

- Minha alma em troca do alivio? Não vejo porque minha alma é valiosa, ela está carregada de sofrimento.
Mas eu aceito qualquer coisa para me livrar desse sofrimento.

O homem abriu um leve sorriso tocando nas asas do rapaz, elas começaram a se tornar negras. Os gritos de dor rasgavam a parede do quarto pois agora era uma dor física insuportável enquanto ele se transformava. Mas quando terminou ele não sentia mais nada, nem dor nem sofrimento.

- Você é diferente do que era e também diferente do que sou, você é o mais próximo do Primeiro.

- Primeiro? Porque?

- Você saberá. Meu trabalho está feito, você me verá de novo quando for a hora certa. - Desaparecendo na escuridão do quarto.

O rapaz ainda tinha muitas perguntas, mas teria que descobrir as respostas sozinho. O que mais lhe intrigava era que a música clássica ainda tocava em um tom baixo meio distante e o fato do céu ter se tornado negro.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A jaqueta, um cigarro e nada mais.

Já era de tarde e eu estava sozinho na rua, havia ido na casa dela mais cedo mas ela não estava. Me sentei na praça e comecei a fumar pensando se viraria as costas para tudo que aconteceu ou se tentaria mais um vez encontra-la naquele dia. Quando começou uma forte chuva, me abriguei na farmácia decidido que iria tentar falar com ela de novo e entregar a jaqueta que ela havia pedido nos 3 dias em que estivemos juntos.

Ainda chovendo mas em menor quantidade vesti a jaqueta e fui até a casa dela que era perto da farmácia, toquei o interfone e ela atendeu com uma voz de sono, disse que eu não poderia subir e pediu pra eu esperar na escada. Entrei e sentei nos primeiros degraus ouvindo os passos rápidos dela. Então ela apareceu com um roupão branco e molhada, como se tivesse saído do banho mas talvez tivesse pego a mesma chuva que eu.

Ela só olhava pra frente ou para baixo como se tivesse com medo ou vergonha de algo e eu não conseguia tirar os olhos dela, ela havia dito que o irmão dela logo chegaria então eu fiz o que pretendia. Tirei minha jaqueta recém molhada e botei nos ombros dela enquanto ela olhava para baixo.

- O que é isso? Ta molhada - Perguntou ela

- Pode ficar.

- Serio? É mentira, você não daria ela pra mim.

- Acredite, pode ficar.

O sorriso dela naquele momento foi unico e a unica reação dela foi me dar uma pulseira vermelha que eu também já havia pedido naquele dia mais cedo. Logo em seguida o irmão dela chegou e eu tive que ir embora, ela me levou até a porta e me deu um abraço rapido desejando boa viagem, era o ultimo dia que eu estaria naquele lugar. Já não chovia mais, acendi outro cigarro e caminhei sem rumo observando a pulseira que nunca saiu do meu braço.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O mar, um cigarro e nada mais.

No porto da cidade, ao por do sol somente esperando com a bolsa no ombro e o cigarro na mão.

-Você vai mesmo fazer isso? É perigoso. - Disse ela em um tom de preocupação.

-Eu sei, mas eu tenho que tentar.

-Mesmo que custe sua vida? Idiota.

-Minha vida? Eu a havia apostado toda em você e perdi

Essas palavras abalaram não só eles, mas como o mar se tornou violento e como o sol se escondeu no céu negro.

-Você foi importante pra mim, vou sentir sua falta.

-Não tanto quanto eu sinto a sua.

-Vamos Zarpar! - Disse o Marinheiro Sujo.

-Tenho que subir - Disse em sua ultima baforada enquanto apagava o cigarro.

-Me dê essa ponta de cigarro, vou guardar junto daquelas cartas - Ela nunca foi disso, mas gostava de pontas de cigarro.

Ele a entregou e subiu no barco sem olhar pra trás, porque não queria que a ultima imagem dele ficasse gravada em lagrimas..