sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Uma música, um cigarro e nada mais.

O som da guitarra daquela música rasgava os pensamentos dela a cada nota e ela rasgava seu próprio corpo com um estilete, estava desesperada queria se prender a alguém mas só conseguia se prender a algo, todos os dias ela passava chorando sozinha e todos as noites ela se mutilava aos poucos, não queria mais viver, não tinha nada para se segurar, esteve sozinha todos esses anos e sabia que permaneceria assim para sempre.

- Eu preciso de alguém, eu preciso ser mais forte mas é impossivel sozinha - Disse ela chorando em desespero

- E como pretende fazer isso se você não precisa nem de si mesmo? - Disse uma voz atrás dela

- Eu não sei, eu só sei que não da mais pra ser assim

- Aceitação é o primeiro passo. Aceite que você não tem nada nem ninguém na vida além de si mesmo, aceite que você não tem nada a perder além do seu corpo e alma, que se continuar assim você será um nada

- Isso é muito pesado pra mim, é insuportavel

- Seu corpo devora sua alma e sua alma devora seu corpo

- Se eu me aceitar, me sentirei melhor? Conseguirei encontrar alguém pra suportar tudo isso comigo?

- Você não precisara procurar tanto alguém, porque já tera você mesma

- E qual é o segundo passo?

- Esse é você que escolhe, mas lhe digo que o terceiro passo é a morte, e eu voltarei neste dia para ver como você se saiu.

- Eu só preciso de mim, eu só preciso de mim... - E ela repetiu isso durante o dia inteiro

Ele se virou desaparecendo na fumaça do seu cigarro dizendo uma ultima frase

- Parabéns, agora você está mais proxima do fundo do poço.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Um sonho e nada mais.

Eu estou fazendo coisas erradas, desejando coisas erradas e eu sei que essa noite eles vão aparecer pra mim, eu não sei como eu estarei quando acordar, se eu vou continuar sendo como eu era ou se algo ruim vai acontecer comigo. Por favor me ajuda - Disse ela em um tom de tristeza

-É claro que eu vou te ajudar, eu prometi que sempre estaria com você, eu vou te salvar essa noite, eu estarei la no seu sonho se acontecer alguma coisa que aconteça comigo e não com você

-Eu não queria te envolver nisso, eu não queria, me perdoa mas eu acho que não conseguiria sozinha

-Tudo bem, eu sou um anjo e irei proteger você, não importa como. Vamos dormir pra que isso acabe logo

Na manhã seguinte ele acordou com seu corpo cansado e dolorido com varias marcas vermelhas no pescoço ele não se lembrava de nada mas sabia que algo realmente havia acontecido, ele procurou saber como ela estava e ela disse que sentia o mesmo mas com mais marcas no corpo, ela lembrou de tudo e disse que ele estava lá com asas de anjo como havia prometido e graças a ele hoje ela pode ser livre e feliz. Depois desse sonho foi como se a alma deles tivesse se tornado só uma, uma amizade superior a todas nasceu daquele momento, como se a alma deles dançassem valsa durante toda a eternidade.

Se ele não a tivesse ajudado naquele momento, no dia de hoje ela não estaria mais aqui nascendo de novo, ao lado dele.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A valsa, um cigarro e nada mais.

Era a festa mais importante da cidade, todos estavam com suas roupas de gala, a orquestra não podia errar nenhuma nota naquela noite ou tudo estaria arruinado. Ele conhecia bem cada pessoa que estava naquela festa, era socialmente bem sucedido, um anfitrião de verdade. Estava usando seu negro fraque com abotoaduras de ouro na forma do rosto de um leão e reparou que no fundo da sala sozinha estava a moça mais linda da cidade. Ele sabia o porquê, ninguém naquela cidade ousara dançar com ela pois sabiam de sua fúnebre historia. Apagou aquele que seria seu ultimo cigarro e se aproximou dela como um anfitrião.

- Daria-me a honra desta dança? - Perguntou enquanto estendia sua mão.

- Não sabe de meu drama?

- Sim, mas não seria certo de minha parte deixar uma dama sozinha.

- De fato, os rumores sobre você estavam certos. É mesmo um cavalheiro - Dando a mão ao homem.

Caminharam até o centro do salão quando a orquestra começava uma nova valsa, era a Danse Macabre. Ele a conhecia bem, era a valsa que ele mais aprendeu a dançar, pois sua avó havia lhe dito que este dia chegaria.
Assim dançaram a noite toda, seus olhos estavam fixos nos olhos verdes daquela moça, seus corpos juntos era algo que ele jamais havia sentido, todos os olhares da festa estavam voltados para eles. Quando a valsa se tornou lenta ele sentiu que o momento havia chegado e quando deu-se a ultima nota daquele sombrio violino ele já estava no chão e ela caminhava novamente para a cadeira em que estava.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A borboleta, um cigarro e nada mais.

Uma manhã em um campo florido havia uma pequena garota usando um simples vestido branco ajoelhada entre as flores, não sabia se as lágrimas que escorriam pelo seu rosto eram de ódio ou de tristeza, mas ela estava cortando as asas das borboletas que haviam naquele campo. Já havia matado algumas que estavam caídas ao seu redor, achava que aquilo poderia cura-la mas já havia algumas semanas que fazia aquilo mas nunca sentia-se melhor.

Reparou que um cigarro caia ao seu lado lentamente e quando tocou o chão todas as flores desabrocharam em um piscar de olhos, virou-se e viu um anjo com asas negras, chocou-se em instantes mas logo sentiu uma serenidade dentro de si.

- Era você...você que aparecia nos meus sonhos - Disse ela ainda chocada

- Sim - Disse o anjo olhando fixamente as borboletas mortas

- Não pode mata-las, não se sentira melhor fazendo isso e nunca ira se curar dessa dor se não houver uma borboleta dentro de você

- Eu as odeio, elas me lembram ele, se eu não mata-las todos os dias ele continuara dentro de mim me matando aos poucos

- Elas significam a transformação, você continuara sempre nessa forma se não desejar voar. Eu posso tirar essa dor de você e não elas. Eu estive com você desde o dia em que nasceu, esperando o momento em que pudesse protege-la

- Eu me sentia livre quando estava com ele, mas agora sinto que ele fez comigo o mesmo que eu faço com as borboletas, por favor me ajude, eu quero ser livre novamente - Gritando enquanto se agarrava ao anjo

- Prometa-me que jamais ira tocar em uma borboleta e nem em si mesmo com ódio ou tristeza, que assim você será livre e poderá voar para onde desejar.

- Ne me quitte pas, Je ferai un domaine, où l'amour sera roi, où l'amour sera loi, où tu seras roi - Chorando enquanto o abraçava

- Je vais devenir, l'ombre de ton ombre, l'ombre de ta main, l'ombre de ton coeur

As borboletas que estavam mortas voltaram a voar juntas das que sairam das flores que desabrocharam colorindo o ceú de uma maneira unica, assim como o coração daquela garota voltou a vida após tanto tempo morto.

Nota

Je ferai un domaine - Eu farei uma terra
Où l'amour sera roi - Onde o amor será rei
Où l'amour sera loi - Onde o amor será lei
Où tu seras roi - Onde tu serás rei
 
Je vais devenir - Eu me tornarei
L'ombre de ton ombre -A sombra da tua sombra
L'ombre de ta main - A sombra da tua mão
L'ombre de ton coeur - A sombra do teu coração
 

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Um acordo, um cigarro e nada mais.

Estava no canto do quarto sofrendo há dias, inúmeros cigarros apagados a sua volta e não sabia como conter a dor. Já havia feito de tudo ao seu alcance mas era tarde demais, aquelas asas já estavam pesadas demais para ele, pois foram anos suportando o sofrimento de todos que possuía um certo apreço. Não podia morrer pois ele era unico no mundo, seus amigos diziam que eram um dom mas ele sabia que não passava de uma maldição.

Todo o céu se tornou negro e o quarto ficou iluminado somente sob a luz do luar, uma figura misteriosa adentrou o quarto vestindo um elegante terno seguido por uma melancólica música clássica.

- Deve doer muito, não é mesmo? - Perguntou o homem se aproximando do rapaz

- Sim, é uma dor insuportável. Quem é você?

- Meu nome não é tão importante no momento, mas eu sou aquele que você sempre quis ser

- Que eu sempre quis ser? Não entendo, eu nunca desejei ser outra pessoa, só desejava não ter esse peso na alma

- Sua alma de fato é muito valiosa para nós, se aceitares um acordo talvez eu possa te ajudar quanto esse peso

- Minha alma em troca do alivio? Não vejo porque minha alma é valiosa, ela está carregada de sofrimento.
Mas eu aceito qualquer coisa para me livrar desse sofrimento.

O homem abriu um leve sorriso tocando nas asas do rapaz, elas começaram a se tornar negras. Os gritos de dor rasgavam a parede do quarto pois agora era uma dor física insuportável enquanto ele se transformava. Mas quando terminou ele não sentia mais nada, nem dor nem sofrimento.

- Você é diferente do que era e também diferente do que sou, você é o mais próximo do Primeiro.

- Primeiro? Porque?

- Você saberá. Meu trabalho está feito, você me verá de novo quando for a hora certa. - Desaparecendo na escuridão do quarto.

O rapaz ainda tinha muitas perguntas, mas teria que descobrir as respostas sozinho. O que mais lhe intrigava era que a música clássica ainda tocava em um tom baixo meio distante e o fato do céu ter se tornado negro.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A jaqueta, um cigarro e nada mais.

Já era de tarde e eu estava sozinho na rua, havia ido na casa dela mais cedo mas ela não estava. Me sentei na praça e comecei a fumar pensando se viraria as costas para tudo que aconteceu ou se tentaria mais um vez encontra-la naquele dia. Quando começou uma forte chuva, me abriguei na farmácia decidido que iria tentar falar com ela de novo e entregar a jaqueta que ela havia pedido nos 3 dias em que estivemos juntos.

Ainda chovendo mas em menor quantidade vesti a jaqueta e fui até a casa dela que era perto da farmácia, toquei o interfone e ela atendeu com uma voz de sono, disse que eu não poderia subir e pediu pra eu esperar na escada. Entrei e sentei nos primeiros degraus ouvindo os passos rápidos dela. Então ela apareceu com um roupão branco e molhada, como se tivesse saído do banho mas talvez tivesse pego a mesma chuva que eu.

Ela só olhava pra frente ou para baixo como se tivesse com medo ou vergonha de algo e eu não conseguia tirar os olhos dela, ela havia dito que o irmão dela logo chegaria então eu fiz o que pretendia. Tirei minha jaqueta recém molhada e botei nos ombros dela enquanto ela olhava para baixo.

- O que é isso? Ta molhada - Perguntou ela

- Pode ficar.

- Serio? É mentira, você não daria ela pra mim.

- Acredite, pode ficar.

O sorriso dela naquele momento foi unico e a unica reação dela foi me dar uma pulseira vermelha que eu também já havia pedido naquele dia mais cedo. Logo em seguida o irmão dela chegou e eu tive que ir embora, ela me levou até a porta e me deu um abraço rapido desejando boa viagem, era o ultimo dia que eu estaria naquele lugar. Já não chovia mais, acendi outro cigarro e caminhei sem rumo observando a pulseira que nunca saiu do meu braço.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O mar, um cigarro e nada mais.

No porto da cidade, ao por do sol somente esperando com a bolsa no ombro e o cigarro na mão.

-Você vai mesmo fazer isso? É perigoso. - Disse ela em um tom de preocupação.

-Eu sei, mas eu tenho que tentar.

-Mesmo que custe sua vida? Idiota.

-Minha vida? Eu a havia apostado toda em você e perdi

Essas palavras abalaram não só eles, mas como o mar se tornou violento e como o sol se escondeu no céu negro.

-Você foi importante pra mim, vou sentir sua falta.

-Não tanto quanto eu sinto a sua.

-Vamos Zarpar! - Disse o Marinheiro Sujo.

-Tenho que subir - Disse em sua ultima baforada enquanto apagava o cigarro.

-Me dê essa ponta de cigarro, vou guardar junto daquelas cartas - Ela nunca foi disso, mas gostava de pontas de cigarro.

Ele a entregou e subiu no barco sem olhar pra trás, porque não queria que a ultima imagem dele ficasse gravada em lagrimas..